Grande promessa do América, meia sonha com o retorno aos gramados enquanto vive a árdua rotina de recuperação de cirurgia.
“O pior já passou, ficou para trás. Sonho agora com um futuro emocionante, com muitas conquistas, em que eu possa ajudar o América.” A frase é de um jogador cuja vivência no profissional começou cedo, aos 17 anos, e aos 19, ele já recebeu elogios, enfrentou a dor e sentiu até medo de que a carreira terminasse precocemente. Mas agora Matheusinho só pensa em se recuperar do rompimento de ligamento do joelho direito e retornar aos campos, para voltar a brilhar e ajudar o clube de que tanto gosta.
O dia 17 de outubro de 2017 estará para sempre na lembrança. Não como um dia feliz, mas o da tristeza maior, o jogo da contusão. Foi contra o Paraná, empate por 1 a 1. No segundo tempo, ele recebeu uma bola pouco depois da linha do meio-campo. Ajeitou e preparou-se para avançar, mas recebeu uma entrada violenta de um defensor adversário, Murilo Rangel. “Na hora senti muita dor. Mas pensei que não era nada. A dor era muita e até saí de campo. No dia seguinte, o doutor Cimar Eustáquio (médico do clube) me disse que eu tinha rompido o ligamento do joelho e teria que operar. Pensei comigo: ‘acabou tudo’,” relembra.
Veio então um tempo de espera, de incertezas. Ele passou a pensar na cirurgia, feita apenas em 21 de novembro. “Ficava pensando em como seria a cirurgia. E se fosse preciso outra? Mas queria recuperar e voltar a jogar. Aí vinha o pensamento se conseguiria voltar a jogar. Será que conseguiria? Era o que passava pela minha cabeça”, afirma.
Matheusinho viveu momentos de solidão. Acostumado a treinar todos os dias no CT Lanna Drumond com os companheiros, depois da cirurgia se viu sozinho. “Não era um abandono, mas uma sensação esquisita. Vinha para o CT todos os dias e ficava sozinho. Não havia ninguém no campo. Só eu e os fisioterapeutas. Era ruim demais. Não tinha atividade com bola, só a academia de ginástica. Ficava pensando nos amigos do time. Sabia que alguns nos deixariam, pois haviam recebido propostas. E como seria com quem estava chegando? Mas veio o alívio quando vi que nada havia mudado. Todos me receberam muito bem, os de antes e os que estão chegando. Isso me deu força.”
Ele admite ter sentido raiva de Murilo Rangel: “Fiquei muito chateado, ainda mais no dia seguinte, quando o médico disse que teria de operar. O que me revoltou ainda mais foi que nada aconteceu com ele, nem cartão amarelo, nem suspensão. A lei desportiva precisa mudar nesse sentido. Precisa haver uma punição mais severa contra a violência”.
O prata da casa americano ainda confessa sentir inveja dos companheiros ao vê-los treinando. “O pior é quando termina o treino e a gente se encontra no vestiário. Uns dizem que estão cansados, que o dia foi puxado. Eu respondo que queria estar como eles. Não vejo a hora de treinar com o grupo novamente. Minha vontade é enorme.”
Uma surpresa, a maior da carreira, atenuou a dor. A presença, em 14º lugar, numa a lista dos melhores jogadores Sub-20 do mundo, organizada pela revista inglesa Four Four Two. “Nunca tinha pensado nem mesmo em estar entre os 20 melhores do Brasil, quanto mais do mundo. Foi uma grande conquista para mim, que me fez pensar que tenho de crescer ainda mais. Quero só subir nesse ranking”, diz, cheio de satisfação.
Ele não esconde seu desejo de atuar no exterior, embora afirme não ter preferência de clube: “Está nas mãos de Deus. Minha preocupação agora é com o America e a Série A. Estamos entre os melhores. Quantos não queriam estar no lugar em que chegamos agora? O América conquistou a Série B e pusemos o clube onde ele deveria estar sempre”.
Passado e futuro
Matheusinho estreou no profissional com 17 anos, contra o Tombense. “Foi em 2016, logo depois da Copa São Paulo”, conta. “O América terminou como terceiro colocado e fui o artilheiro do time. Voltamos para BH e fui chamado para o profissional, para a disputa do Mineiro. Mas só no ano passado me tornei titular.” Justamente quando o time entrava na reta final da Série B, os momentos de definição do título, a lesão interrompeu seu caminho. “No jogo do título (contra o CRB, no Independência), eu estava lá, de muletas, com o estádio cheio. O Glaycon me colocou nos ombros e comemoramos”, recorda-se.
O jovem armador alimenta um sonho: voltar a atuar no mesmo nível de antes, fazendo gols e dando passes e assistências para os companheiros. Segundo os médicos, deve reaparecer no time apenas no Campeonato Brasileiro. Até lá, continuará acompanhando o time de fora dos gramados. Matheusinho chega cedo, como os companheiros. Enquanto os jogadores vão para o campo, ele segue para a academia e depois dos aparelhos vai para a piscina de gelo. Toma banho e troca-se ao fim da manhã, para almoçar com o restante do grupo, num hotel no Bairro Cidade Nova. Repousa, como os demais, e retorna à tarde para o CT, onde repete a rotina. À noite, um momento de descontração e relaxamento, pois é quando se encontra com a namorada, Lara, também de 19 anos. “Temos cinco meses de namoro. Gosto muito dela. Assim vou tocando a minha vida.”
O prata da casa em números
19
anos
17
anos (idade da profissionalização)
54
jogos na equipe principal
3
gols marcados
2
contra o Santa Cruz, na Série B do Brasileiro
1
contra o Villa Nova, no Campeonato Mineiro
Frases
“O que me revoltou ainda mais foi que nada aconteceu com ele (Murilo Rangel), nem cartão amarelo, nem suspensão. A lei desportiva precisa mudar nesse sentido. Precisa haver uma punição mais severa contra a violência”
“Nunca tinha pensado nem mesmo em estar entre os 20 melhores do Brasil, quanto mais do mundo. Foi uma grande conquista para mim, que me fez pensar que tenho de crescer ainda mais”
“No jogo do título (contra o CRB, no Independência), eu estava lá, de muletas, com o estádio cheio. O Glaycon me colocou nos ombros e comemoramos”