Exatamente 63 anos depois do acontecimento o administrador do Grupo Itabirinha Antiga, Ronald Viana, traz a tona todos os detalhes desta história que já estava praticamente esquecida pela população de Itabirinha e de toda região.
Por Ronald Viana
Eu cresci ouvindo dizer que nos anos 50 tinha um aeroporto em Itabirinha e que um dia um avião caiu em nossa cidade. Essa história vem passando oralmente de geração em geração e aos poucos vai caindo no esquecimento. Para que tal não acontecesse e como sou um apaixonado pela aviação, resolvi escrever tudo que ouvi de diversas pessoas sobre esse acontecimento.
Primeiramente precisava descobrir umas coisas: Qual o modelo do avião? A quem pertencia? Quem era o piloto? Qual o ano do acidente? E apagar algumas inverdades, como que ele tinha esbarrado na pedra, que o piloto tinha pulado do avião quando estava perto do chão. Coisas assim, sem fundamento.
Depois de ouvir muitas testemunhas, consegui uma que viu o momento da queda, que na verdade, foi um pouso forçado.
Essa testemunha é o meu amigo Giovane Acenir Nunes, itabirense erradicado no Distrito Federal, Major aposentado do Corpo de Bombeiros do DF e Engenheiro Mecânico.
Ele me contou que o ano era 1955, e que estava sentado na escada da porta da casa dele que ficava perto da casa do Pedro Berto e Dona Fernandina e viu quando o avião veio baixando, com o motor parado, e acabou fazendo um pouso forçado no pasto que ficava onde hoje é o loteamento do Sinval Tavares, atrás do Estádio Municipal. Ele conta que o avião pousou no pasto e em seguida capotou, ou pilonou, como se diz na aviação.
Perguntei a ele se lembrava sobre como era o avião, mas ele disse que não foi ao local do acidente mas ficou olhando de longe o povo chegando para acudir o piloto e que a cor da aeronave era amarela.
Com esse depoimento do Giovane sobre a cor amarela do avião e o que ouvi do meu tio Laercio Vaz de Melo, que afirmou que o aviãozinho era de madeira e lona logo cheguei a conclusão que a aeronave era um Piper Cub J3 conhecido como Paulistinha ou o modelo 150, o Super Cub. Esse avião pousa e decola em pistas curtas e é quase um ultraleve, e tem capacidade para um piloto e um passageiro e foi apelidado de Teco Teco.
E a pista? Onde ficava?
De acordo com as pessoas da época ela ficava inicalmente na Vila Nova, onde hoje é a Rua Amazonas ou Francisca Lobo, ( denominação atual ) e começava onde fica a Igreja Assembleia da Vila e terminava onde hoje é os fundos da Oficina do Juliano.
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O sr Zezinho Manoel começou a lotear a área, que era de propriedade dele, e a pista foi transferida para onde hoje é o Bairro Vale Verde, e ficava na chácara do sr Acir e Dona Nara.
Conforme ouvi de alguns moradores de Itabirinha, outras aeronaves também pousavam aqui e não somente o que caiu. Operavam naquela pista o avião da Madereira Cobraice, o da família Borges, ou “Borja”, como diziam e o avião da família Benz. Só não consegui descobrir qual deles caiu.
O avião que mais descia aqui era o da Cobraice, sempre trazendo o gerente, sr Jesus Antonio Laureano, mas também traziam políticos em campanha e comerciantes.
Quando esses aviões pousavam, como eles eram muito leves, tinha que ser amarrados ao chão para não serem movidos pelo vento e sempre ficava um adulto vigiando pois a meninada curiosa furava a tela com o dedo e tentava girar a hélice, assim me contou o tio Laércio.
Os pilotos, enquanto esperavam os passageiros sempre compravam ovos e galinha caipira para levarem.
E como foi o acidente?
O avião que caiu veio de Governador Valadares trazendo o sr Leonídio, irmão do Sodim do Cinema. O piloto procurou algum passageiro para a viagem de volta mas não apareceu ninguém, e nem os vendedores de ovos e galinhas apareceram nesse dia.
Ele então decolou com a proa no sentido do Patrimônio Velho e curvou quando sobrevoava a fazenda do Juca Levindo e foi subindo e tomando o rumo de Valadares. O povo ficou olhando até quando ele sumiu atrás da pedra. Logo depois chegou a notícia de que o avião havia feito um pouso forçado perto do campo de futebol. Creio que daí é que surgiu o boato de que a pedra “puxou” ele.
Quando a aeronave tocou o solo e capotou todos correram até o local, mas o piloto já estava fora da aeronave, e dizem que quebrou o braço e sofreu algumas escoriações.
Aí aconteceu um fato inusitado. Várias pessoas disseram que uma moradora da cidade de nome Maria Carangola, mãe do Antonio Carangola, levou uma vasilha com água para o piloto para que ele bebesse, mas ele deu a água pra ela dizendo que ela estava mais assustada que ele.
Sobre o que reza a lenda que o piloto pulou quando o avião estava perto do chão, posso afirmar que é lenda mesmo, pois piloto só pula fora de avião se saltar de paraquedas. Um salto nessa situação de pouso conforme narrado é fatal.
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Conforme ouvi também, o povo tirou o avião do meio do mato carregado o nos braços, pois era um avião leve, e a meninada veio trazendo a asa que soltou no tombo. Ele inicialmente ficou em um lote vago perto de onde hoje fica o SICOOB e depois foi levado para a Serraria do Sr Alvino Heringer onde ficou até que um caminhão levou embora o que sobrou dele.
E desta forma acabaram os voos em Itabirinha.
Isso foi o que ouvi e durante muitos anos e agora estou escrevendo para que fique registrado. Espero que outras pessoas acrescentem mais detalhes sobre esse acontecimento.
Agradeço a colaboração dos itabirenses que me narraram esses fatos:
Juvenal Romão da Paixão.
Joaquim Vieira de Araújo.
Jací Ferreira da Costa.
Laercio Vaz de Melo.
Milton Dias Bicalho (sr.Nonô )
E outros que não me lembro no momento.
A eles o meu sincero agradecimento. As fotos abaixo são meramente ilustrativas e mostram o modelo da aeronave que acredito que seja igual a envolvida no acidente.
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