Corrupção, chantagem, traição, uso de verba da saúde para pagar pistoleiro e ameaça: investigação aponta os incríveis elementos por trás da execução
Mateus Parreiras/em.com.br
“Ele (o jornalista) ameaçava passar para a oposição e trazer a público escândalos como os desvios de verba de R$ 80 milhões da saúde municipal, apurado pelo Departamento de Falsificações e Defraudações (da Polícia Civil). Parte dos recursos teria sido usada até para pagar o aluguel da casa da prefeita”, afirma o delegado César Duarte Matoso, do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) Sul, da Polícia Civil.
A investigação indica que verbas da saúde e da educação chegaram a ser usadas para a contratação do pistoleiro – ainda foragido –, fato agravado por serem recursos para áreas extremamente carentes do município. Depois do crime, o jornal O Grito fechou. Os funcionários têm medo.
Sete tiros
Detalhe fundamental
O suspeito foi interrogado e negou o crime. Mas a sua altura era um bom indicativo de que poderia integrar a lista de investigados. “Ele tem 1,80m e a vítima, 1,70m. Todos os tiros vieram de cima para baixo”, aponta. O suspeito é considerado extremamente perigoso e é investigado por outro homicídio. A polícia então começou a investigar e a interrogar criminosos da vila, o que levou o suspeito a ser expulso. “Os traficantes não gostam de homicidas por contrato e até picharam (na comunidade) ‘Paulo César pé-de-pato’, que significa matador na gíria criminosa”, disse o policial civil.
A Polícia Civil reconstituiu as últimas duas semanas da vida da vítima por meio de imagens de câmeras de segurança e de entrevistas, e ficou nítido que não havia uma rotina clara. Isso reforçou a participação de Leleca no caso. “No dia da morte, o carro dos assassinos ultrapassou o veículo da vítima e ficou esperando que ele chegasse à casa de Alessandro. Isso mostra que alguém os alertou para o destino da vítima e o Alessandro passou a ser suspeito”, afirma o delegado César Matoso.
Os elementos começaram a apontar para o envolvimento da então prefeita Roseli Pimentel, e, segundo a polícia, isso se tornou definitivo quando os depoimentos de funcionários da prefeitura deram conta de que no dia da morte do jornalista os pertences de Maurício foram levados para o gabinete de Roseli. “Uma testemunha contou que o celular, as roupas e R$ 100 em dinheiro foram removidos do ferido e, em vez de ficar sob a guarda do posto de saúde, acabaram sendo levados para a prefeita. Ela teria até desdenhado das mensagens do celular”, conta Matoso. Àquela altura, vários documentos no computador da vítima também mostravam a chantagem contra a prefeita pelo apoio do jornal.
Pressão e desvio
Segundo a polícia, um desacerto na entrega do dinheiro prometido ao suspeito de ser o matador foi a última peça a ligar a prefeita ao crime. “O Paulo César chegou a ameaçar Alessandro por não ter recebido. Uma verba de R$ 19.996,84 foi então depositada pela prefeitura na conta de Alessandro, que repassou para a namorada de Gustavo Sérgio Soares Silva, o motorista que conduziu o atirador Paulo César e seu comparsa David Santos Lima.” Como a prefeita tinha foro privilegiado, foi preciso pedir a prisão da política por meio do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG).
Em 7 de setembro último, a prefeita, Alessandro, Gustavo e David foram presos. Ao todo, cinco pessoas foram indiciadas pelo homicídio e sete por peculato, que é a subtração ou desvio de dinheiro público ou de bem móvel de valor, para proveito próprio ou alheio, por funcionário público. No caso, pelas verbas e pertences da vítima desviados.