A PEDRA DO MILIANO
Por Neto Mendes
Quem viveu a infância, adolescência e a juventude em Mantena nos anos 60, 70 e 80 e não foi no Miliano levanta a mão ai!?
A Pedra do Miliano é um maciço rochoso de tamanho volume e beleza que impressiona, é um símbolo imponente do Mantena, é o nosso Cartão Postal, de qualquer lugar que você estiver olhando lá está a Pedra do Miliano com seus 652 (?) metros de altitude, parece que ela nos persegue seja visualmente ou energeticamente, coisas dos minerais diria meu amigo Ricardo Vinhal mantenense engenheiro de Minas Expert nas subidas do Miliano.
A Pedro do Miliano parece abraçar toda cidade e todos que aqui vivem, não existe uma pessoa sequer que passe por Mantena sem ser visto pela Pedra do Miliano, ela vê e sabe de tudo que acontece na cidade…
Eu quando criança achava que Mantena significava TERRA BOA por causa da Pedra do Miliano. A Pedra recebeu esse nome em referência ao primeiro morador o senhor Emiliano Ferreira Junior que em 1930 comprou grande parte de terras na região depois de 2 anos vendeu para Cândido Ilhéu que doou uma boa parte dessas terras para o surgimento da cidade de Mantena, a Pedra carinhosamente é chamada pelos mantenenses de MILIANO.
Imagino o cenário maravilhoso que deveria ser o entorno do Miliano todo coberto por um exuberante mata atlântica, coisa de cinema. Nas nossas vidas de crianças, adolescentes e jovens a Pedra do Miliano sempre esteve no nosso imaginário, escalar a pedra e tomar banho num poço que tinha no pé dela era lei.
Nesse poço é onde nascia o Córrego do Míliano que se juntava com o Rio São Francisco bem no quintal do seu Oswaldo soldado engrossando o braço sul do rio São Mateus ou Rio Cricaré que desagua majestosamente no oceano atlântico em Conceição da Barra no ES.
No final dos anos 60 com a chegada da televisão em Mantena a torre foi instalada lá no cume da Pedra do Miliano, lugar mais alto não tinha para a antena, o acesso a Pedra ganhou um bom trecho que se podia ir de carro, os último 250 metros só a pé e com muita atenção.
Normalmente programávamos as subidas com dias de antecedências e preparávamos um embornal com água e frutas para a jornada, existiam varias tribos de idades e interesses diferentes que subiam a pedra . Subir pela frente e descer também pela frente é o normal, mas nós descíamos por trás do morro de acesso onde só cabrito andava, era uma aventura e uma comprovação de valentia, “se você desce eu desço também”, o risco de cair e se ralar todo era eminente muitos penavam.
Essas caminhadas muitas vezes fazíamos escondidos dos pais e saíamos bem cedinho num sábado ou domingo. Para subir a pedra saíamos caminhado do centro e tínhamos 3 caminhos para acessar as terras do Sr. Cândido Ilhéu pela direita passávamos pela Coreia que era mais curto e mais emocionante ou dávamos a volta no morro da Coreia pegando a esquerda, era mais longe e mais monótono até ao terreiro do Mané Amâncio essa opção sempre vencia quando tínhamos garotas no grupo e a 3 era a mais lógica e mais longa passando pelo Nicolino, por ai sempre tinha frutas no caminho principalmente goiabas e mangas no final do ano.
A subida demorava umas 2 horas pra mais, íamos conversando, brincando até o cume, chegávamos num alto astral, literalmente, lá é muito alto é o lugar mais alto que nossos sonhos podiam chegar quando crianças. A vista que se tem de lá é de tirar o fôlego, se pode ficar horas contemplando infinitamente o horizonte, uma cadeia de montanhas, muitos de nós ainda não conheciam o mar de mar, esse era o nosso mar, um mar de montanhas, montanhas a perder de vistas.
Acredito que se Deus mora no céu a pedra do Miliano fica pertinho dele. Na descida pegávamos uma trilha numa parte cavada no meio da rocha com matas ralas e água cristalina que desciam por essa grande cavidade até o poço do Miliano que ficava na base direita da imensa pedra.
Esse caminho era uma laje de pedra onde caminhar é bem fácil bem plana mas quando acabava esse caminho o que restava era pedra pura de cor bem escura e com uma inclinação acentuada uns 200 metros de descida na pura pedra, dava medo só de olhar para baixo, lugar que só os caprinos conseguiam caminhar. Ou se descia em zigue-zague bem lentamente ou sentado usando a mão e os pés dando um passo de cada vez, na verdade uma bundada de cada vez, literalmente caminhávamos com a bunda, caminhávamos sentados, em pé caminhando normalmente ninguém descia.
Quando chegávamos no pé da pedra era uma vitória e ficávamos torcendo para os amigos também conseguirem descer sem acidentes. A recompensa era nadar no poço do Miliano, o poço era um espelho de água cristalina no pé da pedra relativamente grande e fundo em algumas partes.
Havia dois mitos ao tomar banho no Miliano, o primeiro que era um poço cheio de sanguessugas, para os nossos olhos era um animal terrível que chupava sangue, isso eu nunca vi e nunca fui pego por uma, além dos pais proibirem os filhos de irem nadar lá eles espalhavam esse boato.
A segunda é que quase cem por cento das crianças que iam nadar no Miliano era as escondidas. Na maioria dos casos quando os pais descobriam era uma surra ou um castigo na certa…..desses já provei umas três vezes rsrsr, mas, não abríamos mão de irmos no Miliano tomar banho, era uma legião de amigos pedalando com outras amigos nas garupas das bicicletas rumo ao Miliano nas tardes de vadiagem no Mantena.
As fotos abaixo são do site oficial da Prefeitura Municipal de Mantena e ilustram a matéria foram realizadas quando em recente visita dos Integrantes da SAMA TRILHAS de São Mateus e alunos(a) da Escola Agrícola de Barra de São Francisco, que conheceram o Cartão Postal – Pedra do Emiliano, Área de Ecoturismo, Esporte e Lazer que continua sendo uma atração para moradores e turistas que visitam Mantena …