Acostumado a criar, dirigir e realizar filmes, o Cineasta Cloves Mendes, carinhosamente tratado como Neto em Mantena, abriu o seu coração e relatou uma história única e maravilhosa que traz como artista principal a querida Dona Crioula, que faleceu recentemente e que deixou um legado muito lindo … Para Neto Mendes morreu a última mãe de uma Geração de Ouro do Mantena dos anos 60,70 e 80.
Comadre Crioula
Cloves Mendes (Neto)…
“Com a morte da Comadre Crioula acho que também morreu a última mãe de uma GERAÇÃO DE OURO do Mantena dos anos 60, 70 e 80”.
As nossas vidas e famílias se misturaram desde de quando minha memória se fez, me lembro dos Santanas desde quando eles moravam numa casa ao lado do açougue do Alvim tinha um corredor que pela minha pouca idade parecia um labirinto que ia me levar numa casa maravilhosa onde morava uma família maravilhosa, era uma adrenalina incrível passar naquele corredor e no final dele sermos tão bem recebidos (sempre ia com a minha mãe e meus irmãos naquela época).
Sabia sempre que ao entrar naquela casa era motivo de festa, alegrias e carinhos dos Santanas, uma casa cheia de vida, eu era recebido principalmente pelo Sérgio na porta. Dizem que tem uma lenda mantenenses, logo que o Sérgio nasceu ele teve que sair do berço da Casa de Saúde para dar o lugar para mim e desde de então nossas vidas e histórias sempre estiveram conectadas.
Antes eu a chamava de Dona Crioula e depois passei a chamá-la de Comadre Crioula de tanto ouvir meu pai e minha mãe a chamando assim e também ao Compadre Geraldinho (meus pais são padrinho da Simone e eles tinham muito orgulho).
No começo a Comadre Crioula era minha mãe (mais uma de tantas mães que Mantena me deu), depois confidente (no início da adolescência), depois conselheira, depois amiga, depois protetora, depois cúmplice, depois parceira de vida. Aliás nossas vidas se cruzaram pelo mundo sem mesmo nós encontrar em NY e Lisboa. Para mim ir a Mantena significava ir na casa da Comadre Crioula.
Tive o privilégio de compartilhar vários momentos maravilhosos em volta de um cabrito, vinho e pão sempre com muitas histórias e gargalhadas. O cabrito que ela fazia era simplesmente digno de qualquer restaurante em Dubai, Deli ou Madrid. Ela fazia com uma maestria o cabrito cuja a receita era só dela e não passava para ninguém, era infalível, sempre ficava MUITO bom mas ela não comia.
Sempre quando ia a Mantena avisava a Comadre Crioula antes na esperança de ser recebido com um cabrito e levava um vinho português pro Compadre Geraldinho. Não adiantava insistir para ela comer um pedacinho dessa iguaria não gostava fazia para as pessoas: ela dizia!
Dava o seu melhor, seus olhos que parecia uma linda e rara birosca da cor de querosene irradiava uma felicidade e alegria tão linda e profunda que podíamos vê no brilho deles o tamanho da sua generosa alma, enquanto deleitávamos o cabrito, e o final sempre era o mesmo só sobrava os ossos.
Ela era presença certa em todos os bailes e eventos sociais da cidade uma verdadeira pé de valsa com seu digníssimo parceiro o compadre Geraldinho.
A Comadre Crioula encerra ao ver esse ciclo de mães mantenenses de toda uma geração que povoaram nossas vidas e moldaram os nossos caráter como a Tia Rosa, Dona Zinha do Vinhal, Dona Rosa do Dr. Carlos, Tia Derinha Muniz, Dona Edith, Dona Augustinha, Tia Penha, Tia Leia Fernandes, Madrinha Edna Jorio, Dona Yolanda Jorio, Tia Darcy Baía, Tia Miquita, Dona Estela Alvim, Dona Filhinha Vieira, Dona Ilda, Dona Edir Barros, Dona Luzia Soares, Dona Nadir Mattedi………..são tantas.
Tenho a certeza Comadre Crioula que enquanto um desses filhos manteneses viver você também vive. RIP Comadre Crioula.