Renato Bragunci, 60 anos, confessou o crime nesta quinta-feira (20)
Os irmãos Lucas de Martha Cera, 22 anos, e Luérick de Martha Cera, 18 anos, foram mortos porque o assassino — um comerciante de 60 anos — queria ficar com uma Toyota Hilux de graça. Renato Bragunci, que está preso desde o dia 14 de julho, confessou o crime nesta quinta-feira (20).
O DIA DO CRIME
Os irmãos trabalhavam com compra e venda de veículos e fizeram negócio com o assassino, que compraria a Hilux deles por R$ 30 mil. Um dos irmãos, inclusive, foi visto por testemunhas às 9 horas da manhã do dia 12 de julho em um cartório da cidade para resolver os trâmites da transação. Mas Renato não tinha dinheiro para ficar com o carro e planejou todo o crime para ter a Hilux sem gastar um centavo.
O GOLPE
As investigações apontaram que Renato entregou aos irmãos um envelope de cor parda, dizendo que ali estavam os R$ 30 mil, valor combinado para aquisição da Hilux. Com o negócio fechado, Lucas e Luérick seguiram para a residência deles para contar o dinheiro.
Já na casa, os irmãos viram que foram vítimas de um golpe: dentro do envelope havia apenas recortes de jornal. Com o crime já premeditado, Renato havia seguido os jovens até a casa e os rendeu com uma arma falsa, pedindo que eles se virassem de costas e deitassem no chão. Em seguida, o assassino amarrou as vítimas com braçadeiras e as matou por enforcamento.
Após o crime, o assassino percebeu que em cima da mesa da casa havia uma quantia de R$ 20,8 mil. Ele roubou o dinheiro, os celulares das vítimas, dois relógios e um cordão de ouro.
BUSCAS
Nesta quarta-feira (19), policiais fizeram buscas na casa do assassino. O dinheiro roubado, além dos relógios e cordão de ouro, foram encontrados enterrados no jardim do imóvel. A polícia ainda não encontrou os celulares dos irmãos. Renato Bragunci disse em depoimento que “não sabe onde deixou os aparelhos” e acrescentou: “Nem sei por que levei o dinheiro”.
De acordo com o titular da delegacia de Ibiraçu, delegado Fabiano Azevedo de Melo, que coordenou as investigações, o assassino chorou ao confessar o crime e disse estar arrependido.
Ainda de acordo com o delegado, Renato não era muito conhecido na cidade de Ibiraçu e se apresentava aos moradores como policial civil aposentado, profissão que nunca exerceu.
Renato já estava preso desde o dia 14 de julho, apontado pela investigação como principal suspeito dos crimes. Ele foi detido no meio da rua, por meio de um mandado de prisão temporária.
Durante as investigações, policiais tiveram acesso a imagens de videomonitoramento que flagraram o comerciante carregando braçadeiras similares às usadas para enforcar os dois irmãos.
REVOLTA NA CIDADE
A notícia da prisão do suspeito no dia 14 de julho tomou conta da pequena cidade de Ibiraçu. Chocados com a brutalidade do crime, moradores chegaram a colocar fogo em frente à loja que pertence a Renato.
VEJA VÍDEO
“FOI UMA BARBARIDADE”, DIZ MÃE
Emocionada, a mãe de Lucas e Luérick fez um desabafo sobre a violência contra os filhos e implorou por Justiça. Ainda sob efeito de remédios após receber a notícia do assassinato de Lucas e Luérick, a dona de casa Elizena de Martha conversou com a reportagem do jornal A Gazeta durante o velório realizado no ginásio poliesportivo da cidade, no bairro Ericina.
Elizena relembrou o momento em que recebeu a notícia de que os filhos tinham sido assassinados. “Quando me falaram, a minha ficha não caiu, só depois. Queria ver os corpos dos meus filhos, mas não deixaram. Tive que ir para o pronto-socorro, não aguentei. Só agora de manhã que eu pude ver. Espero que a Justiça tome as providências necessárias para que venha à tona quem fez isso com eles”, implorou.
A dona de casa comentou a situação em que o crime se deu. “Foi uma barbaridade, foi crueldade que fizeram com meus dois filhos. Meu coração está partido, minha cabeça está mais ou menos porque estou sob efeito de remédios. Perder um filho não é fácil, quanto mais dois”.
Elizena disse que a família já foi vítima da violência, mas que dessa vez a situação terminou de uma forma que ela não esperava. “Anos atrás, quando eles eram pequenos, sofremos três assaltos. E agora ocorreu isso, depois de muito tempo. Salvei o carro, salvei as vidas dos meninos, salvei o pai, salvei a minha vida e, agora, não pude”, lamentou.
A ÚLTIMA CONVERSA
O estudante Thiago Moro, 17 anos, amigo de Luérick, disse que conversou com ele antes do crime, e que tinha marcado de jogar bola com ele.
“O Lucas trabalhava lavando carros e o Luérick estava terminando o terceiro ano do ensino médio. O sonho dele era fazer odontologia. Desde que a gente nasceu a gente era amigo. Eu conversei com o Luérick uma noite antes da morte dele, me chamou para jogar bola. Na manhã do crime, pouco antes ele me mandou mensagem no snapchat dando bom dia. Eram 9h da manhã. Eu ia até brincar com ele, mandar ele arrumar um serviço porque ficava sempre mandando essas mensagens pelo celular. Aí depois mandei uma brincadeira para ele pelo Whatsapp, mas ele não visualizou. Eram 9h43 a última vez que ele olhou. Pouco tempo depois um amigo veio me dizer que ele e o Lucas tinham morrido. Achei até que era brincadeira. Ele tinha acabado de fazer 18 anos e sonhava em tirar a carteira de motorista. Nem sei o que falar. Só lembro dos nossos momentos felizes”.
(Com informações de Victor Muniz)