O BAR DA TIA ROSA
Por Neto Mendes
• O Bar da Tia Rosa era um templo em Mantena, mais que um templo foi um berçário com mais de 4 décadas de serviços prestados a sociedade mantenense. Assim como eu os filhos de Mantena nascidos entre os anos 50 a 80 aprenderam a andar no bar da Tia Rosa, entrávamos engatinhando com uma chupeta na boca e saímos andando com um copo de cerveja na mão. Escola melhor que essa duvido que tenha existido em algum lugar do planeta.
Lugar de encontros, de paqueras, de namoros, de amigos, de festas e de comemorações tudo cabia no Bar da Tia Rosa. A família Baggierri era tutti, tutti bona gente o Sr. Rafael a Tia Rosa e os filhos Gilberto, Dario e o caçulinha Danilo eram a Itália em Mantena.
A decoração do bar era bonita eu achava suntuoso com espelhos nas paredes, as prateleiras cheias com várias garrafas e a perder de vista tinha um relógio na parede segundo o Dario de 1965 que funciona até hoje na casa da família em Conceição da Barra.
Havia um baleiro giratório de vidro cheio de balas, chicletes, chocolates, jujubas, drops etc. O Bar servia mistos, salgadinhos, linguicinha com fritas ou aipim e churrasquinhos. Vendia bebidas, a cerveja Brahma de casco verde era gelada na salmoura onde faziam os sorvetes, era o carro forte da moçada que frequentava e dos nossos pais também lembra meu amigo Claudio Mello, ele complementa:
Meu padrinho Rafael trouxe uma máquina de café expresso da Itália novidade em Mantena. Uau o Sorvete da Tia Rosa na verdade do seu Rafael era ele quem fazia, o único que sabia a receita era o Zé, um cara bacana, simpático e guardião da receita italiana, o sorvete era de outro mundo, era o verdadeiro gelato do Veneto.
Sorvete de creme, chocolate, coco, ameixas todos os sabores tinham destinos certo a VACA PRETA, sorvete com coca cola, seria impossível calcular quantas vacas pretas o Bar da Tia Rosa vendeu e também saber quem inventou essa iguaria (as vezes pediam vaca amarela sorvete com guaraná), famílias, casais de namorados, crianças e o resto da cidade uma vez na semana tomavam uma vaca preta, depois o sundae e a banana split em segundos lugar em terceiro o avassalador sorvete na casquinha.
Na linha dos picolés o de creme com cobertura de chocolate era o meu favorito e haviam dezenas de meninos com carrinhos e caixas de isopor, um verdadeiro exército vendendo picolé nos quatros cantos da cidade, no campo do Volante ou nas quadras em dia de jogos, era renda certa, muitos meninos ajudavam os pais a colocar comida na mesa de suas casas com a venda dos picolés do seu Rafael Baggierri.
Meu irmão Dario Baggierri fala que vendiam nos domingos uns 200 litros de sorvetes e que em dias cívicos esse número subia para 500 litros, sem contar os picolés, a poderosa kibom nunca entrou em Mantena nessa época.
Localizado numa esquina estratégica no centro da cidade de frente para a Praça e as igrejas Batista e Católica, ao lado do Cine Teatro Império o Bar era o epicentro. O Bar durante o dia ficava vazio pouco movimento na maioria das vezes eram pessoas do interior que vinham resolver alguma coisa, sentava no bar para um picolé, sorvete ou um refrigerante de crush, grapete ou guaraná.
O Bar da Tia Rosa durante o dia produzia os sorvetes e picolés, na rua do lado tinha uma porta onde muitos meninos pegavam os picolés para vender. As vezes alguns frequentadores típicos paravam no Bar durante o dia para um café, conversar ou reunir mas por pouco tempo, esse cenário nas férias escolares mudava, o Bar tinha mais movimento durante o dia, eram muitos filhos de Mantena que estudavam fora quando vinham de férias os encontros eram na tia Rosa, passavam horas conversando e jogando porrinha, quem perdia pagava a conta.
A noite o Bar tomava outra dimensão era um fervilhão de gente entrando e saindo principalmente as sextas, sábados e domingos, tinham umas 30 mesas dentro e nas calçadas. Era um lugar especial, passar na Tia Rosa antes do cinema, depois do cinema, antes da missa, depois da missa, nessas horas o Bar dava um bum de gente, muitas pessoas caminhavam na Avenida iam de um jardim ao outro várias vezes conversando de tempo em tempo entravam no bar para dar uma pescoçada, lógico que o objetivo era sempre procurar alguém.
As turmas de várias idades e varias tribos tinham seus encontros regados a muitas cervejas e muitos cigarros e intermináveis papos com muitas gargalhadas e muitos anotavam na caderneta o que consumiam. Não tenho como citar todos, são muitos, mas rendo a Maria José e Daniel Machado o glamour das noites na Tia Rosa, dessa juventude transviada mantenense em memória aos dos demais frequentadores, que deve passar de mil.
Famílias também tinha seu espaço no Bar da Tia Rosa , principalmente aos domingo. Nas noites nos finais de semana era comum vê o Beto e o Dario ajudando no caixa do Bar, aliás desde de pequenos ficavam sentados num banco alto para operar uma máquina registradora bem bonita onde se colocava o dinheiro cobrava e davam o troco, fazia um barulho na hora de abrir com uma manivela…..cartão de crédito/débito e pix eram coisas naquela época que nem a ficção científica prévia.
Quantas histórias, quantos namoros, quantas comemorações o Bar da Tia Rosa testemunhou? Tia Rosa era nossa mãe conhecia todos pelos nomes e as nossas famílias também, sempre com um cigarro cônsul na boca nos acariciava com seu sorriso e suas estrandalhosas gargalhadas, seu Rafael era mais sério sorria com os olhos.
O Beto Baggierri e o Dario Baggierri eram referências no Mantena, eles participavam ativamente da vida social da cidade cada um com seus amigos. Nos meus 5 para 6 anos me viciei no Bar da Tia Rosa num chocolate que tinha o formato de um ratinho o rabo era um pedaço de barbante e por dentro recheado de marshmallow da campineira.
Hoje fecho os olhos e sinto saudade do Bar da minha vida, o Bar da Tia Rosa.