Naquele época Mantena vivia um boom, um momento muito especial, a população de toda a área dos Contestado chegou a ter mais de 320 mil habitantes, Mantena era referência, tinha 4 bancos, várias Casas de Saúde, Correios, Cinema, Coletoria, um comércio vigoroso bem diversificado, chegou a ser o 6° município mineiro na produção de café arábica.
A RUA DO CAFÉ
Por Neto Mendes
Com 4 ou 5 anos lá pelos anos de 1961 morei na rua do café até os 8, 9 anos, tenho muitas recordações da rua que hoje recebe o nome de Avenida Getúlio Vargas.
Para mim a rua começava na esquina da Padaria do Minigildo e na outra esquina um bar e também foi uma farmácia a ordem não lembro. A rua ia até ao seu Leite, nessa direção do lado esquerdo tinha a Pensão São Geraldo dos pais do Black, um pouco a frente a pensão dos Bragattos essas duas pensões davam muito movimento e uma rotatividade tremenda na rua.
Fui muito na pensão São Geraldo brincar com Black, jogavamos bola, birosca ou ferrinho, a pensão tinha um corredor largo e comprido cheio de quartos um de frente pro outro e no fundo o refeitório a cozinha que davam pro rio tínha uma escada alta para descer pro quintal e chegar no rio.
Essa amizade com Black foi por toda a vida e principalmente no futebol, ele jogava muita bola, foi minha referência, ele era também um grande ser humano como seus pais, sempre fui muito bem recebido na pensão e Black também ia muito lá em casa brincar, ele também ajudava os pais na Pensão e não podia brincar na hora que quissese, pois, trabalhava ajudando aos pais, acho que ele era filho único.
Na Pensão dos Bragattos me lembro que era uma arquitetura diferente e muito bonita você entrava na pensão por uma varanda lateral de madeira e flores que dava num salão grande todo circundado por uma cerquinha de madeira onde eram servidas as refeições, no local tinha muita mesas, os quartos ficavam no entorno dessa cerca, achava o salão bonito igual aos filmes que passavam no cinema do tio Archimedes.
Quando não tinha empregada em casa comíamos de marmita da Pensão dos Bragattos. A comida era deliciosa, muitas vezes eu atravessa a rua para buscar as marmitas do almoço e da janta enquanto esperava montar as marmitas ficava conversando com dona Maria, o Ronaldo, a irmã e o pai, era literalmente uma pensão familiar e também conhecia muitos hóspedes e muitas histórias eu sempre queria saber de onde a pessoa eram e o que elas faziam.
Naquele época Mantena vivia um boom, um momento muito especial, a população de toda a área dos Contestado chegou a ter mais de 320 mil habitantes, Mantena era referência, tinha 4 bancos, várias Casas de Saúde, Correios, Cinema, Coletoria, um comércio vigoroso bem diversificado, chegou a ser o 6° município mineiro na produção de café arábica.
A cidade de Mantena chegou a ter aproximadamente 68 mil habitantes nos anos 60, havia muitos viajantes, representantes de firmas, mascates, caixeiros viajantes, professores, funcionários de bancos que ficavam hospedados nas várias pensões da cidade.
Na Rua do Café tinhamos o privilégio de receber o representante mais esperado da cidade; o caminhão da campineira todo preto e cheio de guloseimas, quando estacionava em frente as pensões corriamos para vê quando os motoristas abriam o bau do caminhão, pois, dali saia um perfume de tudo quanto é tipo de caramelos, doces, chocolates, jujubas e chicletes, a criançada esbugalhava os olhos no tesouro que o caminhão carregava, acho que se nós deixassem entrar no baú seriamos capaz de comer tudo em minutos como isso nunca ia acontecer comiamos com os olhos…..
Depois da Pensão me lembro da família do Ciro Balmant, eram muitos irmãos e sempre pela tarde era uma confusão de tantos meninos para comer pão com azeite queimado na boca do fogão, usavam um garrfo de espeto rodando o pão, era deliciosa essa invenção dos novos vizinhos.
Ao lado tinha o Armazém e a Casa do Guerrinha, ele era um dos melhores pescadores e contador de histórias do Mantena, mandava bem nas mentiras também. A primeira vez que chegou o biscoito cream cracker em Mantena foi no Guerrinha, a filha dele a amada Miralda nos levou numa travessa essa novidade de biscoito….. coisas de vizinhos queridos.
Depois vinha o armazém do Soiu Muniz , vendia de tudo, e mais embaixo onde é hoje o Clube dos Jovens morava a família: Nogueira, Gerson, Sérgio, Calobe todos bons de bola e a irmã sempre tinha uma sanfona na trilha musical da casa deles. Mais pra frente na subida da rua morava a minha tia Irani, casada com tio Cici, que era caminhoneiro, ai minha memória pula para o matadouro e chega na fazenda do seu Leite onde iamos buscar mangas.
A Rua do Café do seu Leite pra cá no lado esquerdo já na descida lembro da família do Bagdá com suas irmãs, a Igreja e depois casa do Soiu Muniz casado com a tia Derinha, tia por afeto, essa casa foi uma casa especial na minha vida até hoje.
O Soiu era um conhecedor dos bão da história do Contestado, do Mantena e das pessoas era um arquivo vivo, tive a oportunidade desde muito novo conversar horas com ele, na verdade ouvindo e essa relação foi mais intensa depois que ele sofreu um acidente e ficou acamado, quando ia a Mantena o visitava e passamos horas conversando.
A tia Derinha era uma mãe para nós, cozinhava como ninguém, sempre que podia eu estava por lá almoçando, comendo bolos, broas, pão, tudo que a tia Derinha fazia era uma delícia, todos os dias pelas tardes ia lá para brincar com o Tico e o Evo, a casa tinha um beco grande e largo ali jogávamos bola até a exaustão.
O Tico era um amigo, inseparável morávamos na mesma rua, estudávamos na mesma escola, na mesma sala de aula e mesmo quando me mudei para Vitória e ele para BH, quando nós encontrávamos era como se não houve distância. Washington Luiz de Andrade Muniz um nome tão grande e imponente que um anjo resumiu pela doçura de sua alma em Tico, até o não do Tico era doce com um sorriso. Uma inteligência fora da curva, uma gentileza no olhar, um amigo amado por todos que tiveram o prazer de conviver com ele.
Depois da casa do Soiu tinha um terreno baldio onde é hoje a Caixa Econômica, ali fazíamos nossas trilhas em busca de aventuras, em seguida vinha o sobrado onde morava o Oscar, aí vinha a nossa casa um sobrado alto de madeira que era alugada do Guerrinha, depois a casa do Chacará, pai do William da banca (moramos nessa casa também antes deles), me lembro da oficina do pai do Zézinho Schispiesk(?)…
Na esquina tinha a Padaria que fazia o melhor pão tatu do mundo, os pães eram pequenos e quentinhos impossível comer menos de três. O dono o seu Minigildo foi uma figura folclórica em Mantena, se alguém aparecesse contando uma mentira era logo comparado ao seu Minigildo, lógico que ninguém chegava nem perto das façanha que atribuíam a ele, ele povoava o imaginário popular dos mantenenses, da esquina do Bemge – Banco do Estado de Minas Gerias, para frente para mim já era o centro da cidade. Na rua do café, quem bebeu bebeu! Quem não bebeu não bebe mais!