MELHOR CARNAVAL DO MUNDO
Por Neto Mendes
“…..Vou te beijar agora não me leve a mal hoje é carnaval”….
Na minha remota memória os carnavais de MANTENA era o melhor Carnaval do mundo, até porque eu de tão pequeno e distante do resto do mundo não conhecia nem um outro Carnaval, isso nos anos dourados da década de 60 na zona do Contestado.
Antes do Clube dos Jovens ser construído em frente a cadeia e começar a fazer os bailes de carnavais, eles eram feitos num armazém de café na Rua São Francisco na saída do Mantena para São Chico.
Era uma data que todos esperavam com ansiedade, época muito bacana, eu ia com minha irmã, primas e as amigas delas para o tal Armazém de Café, lembro que a Maristelão era a mais animada. O homens tinham que tirar os sacos de café que estavam armazenados e levar para outro lugar deixando o armazém vazio para ser lavado e decorado pelas mulheres.
Elas usavam muito papel celofane, papel crepom, palhas de coqueiros, serpentinas, confetes e outras “cositas” mais. O piso do armazém de café virava um salão de baile carnavalesco numa tarde. O preparo da pista de cimento batido do armazém era com parafina ralada pulverizada no chão, nunca soube dos efeitos e a importância dessa técnica de espalhar parafina no chão para os carnavalescos brincarem a noite toda ao som de marchinhas tocadas por uma banda de peso formada por músicos mantenenses de altíssimo nível.
É simples a resposta dessa dúvida. É porque eu nunca fui nesses bailes, era proibido pela pouca idade. Lembro dos músicos que abrilhantavam esses bailes de carnaval o Zé Neto, seu Waldemar dos correios por aí vai. Lembro deles descendo ou subindo a esquina de casa com seus instrumentos.
Quando o Clube dos Jovens ficou pronto o carnaval começou a ser realizado lá. As crianças também foram lembradas com a nova sede do clube. Tínhamos duas matinês, uma domingo outra terça. Era uma loucura, todas as crianças usavam o refrigerante como energético para turbinar as mais de mil e uma voltas que dávamos nas matinês, dependendo da música a volta era mais ligeiras.
Crush, grapete, coca cola, fanta e guaraná faziam a gente dar essas voltas por horas, as vezes correndo atrás das paqueras as vezes correndo de outras. Todas as crianças dentro de sua originalidade e recursos faziam suas fantasias em casa com ajuda da família ou compravam prontas. Tinha fantasias de tudo desde arlequim, odaliscas, helenas, princesas, fadinhas, indias, anginhas para as meninas e os meninos de piratas, palhaços, arabes, tarzans, fantasmas, zorros, indios, pierrot…….
Ô quanto risos, É dos carecas que elas gostam mais, olha a cabeleira do Zezé, o jardineira porque esta tão triste, Bandeira Branca amor, índio quer apito se der, mamãe eu quero mamãe eu quero mamar, tai eu fiz tudo pra você gostar de mim, foi foi ele sim foi ele que jogou o pó em mim, a la la oh la la oh….
Quantas marchinhas eternas e quantas energias gostávamos cantando e rodando o salão jogando confetes e serpentinas uns nos outros….”você pensa que cachaça é água, cachaça não é água. Cachaça vem do alambique e água vêm do ribeirão”. Acho que essa música era uma preparação tipo um curso de admissão para subir de nível a criançada, sair das matinês direto para os bailes noturnos. Ainda não sabíamos realmente o que era um carnaval de verdade. Porque carnaval que é carnaval tem que ter bebidas alcoólicas e outras loções, principalmente as vindas da Argentina vendidas nas melhores casas do ramo.
Era a vontade de todos ali crescer e frequentar os bailes de Carnaval dos adultos e pular nas quatros noites porque na quarta feira de cinzas tudo acabava, só no próximo ano teríamos outro baile. Já a partir dos 15,16 anos o juiz permitia o ingresso dos jovens nos bailes noturnos desde de que estivessem acompanhados pelos pais ou responsáveis. Esse era o nosso sonho desde de crianças! Participar do melhor Carnaval do mundo o de Mantena é claro.
Para quem teve a oportunidade de brincar as 4 noites no Clube dos Jovens do Mantena vai concordar com essa afirmação se pensar o contrário é porque nunca brincou o carnaval aí. Era superconcorrido o carnaval e ficou famoso na região. As mesas eram vendidas com antecedência e o preço era salgado a preferência de compra era dadas as famílias tradicionais da cidade. E não sobrava mesas para a metade que queria comprar. Os ingressos eram disputados e também havia carteirinha falsa de sócios e também aumentando a idade do brincante para não ser barrado no baile. Entrar sem mesa e sem pagar era praticamente impossível.
As pessoas com suas turmas faziam uma megaprodução antes de começar os bailes para elaborar as fantasias e tinha até um planejamento a longo prazo pois não podia repetir as fantasias tanto os rapazes como as moças tinham essa Wibe. As fantasias eram de todos os tipos umas ridículas outras lindas e chamativas. Mas num quesito todas combinavam, elas tinham poucas roupas, se não, não era carnaval!
A bebida corria solta quanto mais o cabloco e a cabloca bebesse mais sambava e cantava dando voltas no salão e mais valentes ficavam para as investidas amorosas. Não sei se aumentava a população mantenense depois dos carnavais nunca foi feita uma pesquisa sobre isso.
As bandas eram maravilhosas tinham só craques e tocavam de tudo que um baile de Carnaval pede, de marchinhas a frevos. Quando tinha os intervalos era hora de todos recarregarem as energias, normalmente com bebidas e a maioria sentava no chão mesmo para descansar e diminuir o suor.
Imagina vocês o futum que cheirava nesse ambiente fechado era fevereiro um calor danado em Mantena. Era todo mundo suando de tanto rodar no salão, todo mundo bebendo e exalando álcool e ainda fumando era um péssimo hábito da maioria. O cigarro estava na moda, foi depois de muito tempo que apareceu nos cigarros FUMAR DA CÂNCER.
Os lanças perfumes também eram lançados no ambiente principalmente na hora do baile ele dava um speed na mente da pessoas, muitas sentiam um helicóptero sobrevoando a cabeça e saia voando pela pista e morrendo de rir salão a fora. No final dos bailes a marchinha ….A estrela Dalva no céu desponta….funcionava como um fioterra nas pessoas porque o baile ia acabar e o dia estava raiando.
Sem clemência a banda logo entrava tocando o frevo “As vassouirinhas”: taram ram ram ram…..” e acabou! Tínhamos que voltar para nossas casas. Voltávamos aos bagaço, sem fantasias, sem sandálias, sem tênis, sem conquistar um amor, sem beijar na boca, sem maquiagem, sem camisa mais felizes da vida porque amanhã tem mais um baile do melhor Carnaval do mundo, Mantena-MG.
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